terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Blogues e a sabedoria das massas


        Um dos aspectos mais intensamente comentados da era Web 2.0 é o crescimento dos blogues. Páginas pessoais sempre existiram desde os primórdios da rede, e o diário pessoal e a coluna de opinião diária existiam muito antes disso, portanto porquê tanto alvoroço? No seu aspecto mais básico, um blogue é apenas uma página pessoal em formato de diário. Mas, como Rich Skrenta assinala, a organização cronológica de um blogue “parece uma diferença trivial, mas puxa uma cadeia completamente diferente de distribuição, de publicidade e de valor”. Um dos factores que fez diferença foi a tecnologia chamada RSS (Really Simple Syndication).

        O RSS é o avanço mais significativo na arquitectura básica da rede desde que os primeiros hackers perceberam que a CGI (Common Gateway Interface) podia ser usada para criar sítios baseados em bases de dados. Permite que alguém não apenas aceda a uma página mas faça uma assinatura sendo notificado cada vez que haja mudanças na página. Skrenta chama a isso de “rede incrementável”. Outros a chamam de “rede viva”.

        Agora, é claro, “sítios dinâmicos” (isto é, sítios baseados em bases de dados com conteúdo dinamicamente gerado) substituíram as páginas estáticas há mais de dez anos. O que é dinâmico em termos da rede viva não são apenas as páginas mas os links. Espera-se que um link para um blogue conduza a uma página em permanente mudança, com “permalinks” para qualquer entrada individual e notificação de cada mudança. Um link RSS é, portanto, muito mais forte do que, por exemplo, um favorito ou um link para uma única página. O RSS também significa que o navegador de rede não é o único meio de se ver uma página. Enquanto alguns agregadores RSS, como o Bloglines são baseados na rede, outros são clientes desktop e ainda outros permitem que utilizadores de dispositivos portáteis assinem o conteúdo constantemente actualizado.

       A Netscape desinteressou-se, e a tecnologia foi levada adiante pelo pioneiro de blogues Userland, a companhia de Winer. Na actual azáfama de aplicações percebe-se, entretanto, a herança de ambos os pais.

       Mas o RSS é apenas um dos aspectos que faz o blogue ser diferente de uma página normal da rede. Tom Coates chama a atenção para a importância do permalink: O permalink pode parecer, agora, uma peça trivial de funcionalidade mas foi, na verdade, o dispositivo que transformou os blogues, de um fenómeno que facilitava a publicação de conteúdo numa confusão envolvendo conversas entre comunidades sobrepostas. Pela primeira vez, tornou-se relativamente fácil apontar e discutir especificamente um post num sítio pessoal. Iniciavam-se discussões. O chat emergia. E como resultado, amizades formaram-se ou reforçaram-se. O permalink foi a primeira – e mais bem sucedida – tentativa de se construirem pontes entre blogues. De muitas maneiras, a combinação de RSS e permalinks acrescenta ao http – o protocolo web – muitas das características do NNTP – o Network News Transport Protocol (Usenet). A “blogosfera” pode ser pensada como um novo meio de comunicação entre utilizadores, equivalente à Usenet e outros fóruns que foram os pontos de encontro dos primeiros tempos da Internet. As pessoas podem não apenas assinar os sítios umas das outras – obtendo fácil acesso aos comentários individuais de uma página – mas também – via mecanismos como trackbacks – podem ver quando alguém cria links para a sua página e podem responder, quer criando links recíprocos, quer adicionando comentários.

        Se uma parte essencial da Web 2.0 é tirar partido da inteligência colectiva, transformando a web numa espécie de cérebro global, a blogosfera equivale a uma constante cavaqueira mental que tem lugar na parte frontal do cérebro, a voz que todos ouvimos nas nossas cabeças. Pode não reflectir a estrutura mais profunda do cérebro – frequentemente inconsciente – mas equivale ao pensamento consciente. E, como reflexo do pensamento consciente e da atenção, a blogosfera começou a exercer um poderoso efeito.

By Tim O'Reilly

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